AUSCULTA



AUSCULTA

De: William Vicente Borges

Você não me ouve.
Não quer mais me ouvir.
Mas você quer ser ouvida
Mas não quer por mim.
No entanto grita para mim
Para que eu ouça de fato.
Pois não queres meu ouvido
Mas meu coração ao lado.

Quer que ouça seu interior
Sem que se abra a boca
Sem  que se diga nada.
Pois a dor do falar é maior
Que a dor do silêncio.
Este silêncio que não cala
Deste barulho sem dó
Que abala a alma.

E eu neste afã de ouvir-te
Acabo por não escutar nada.
Ou melhor, me prendo a zumbidos
Que vem de dentro de mim.
E assim nós dois ficamos
Sem ouvir um ao outro
Não entendendo fala alguma
Tornamo-nos assim dois loucos.

E nesta ausculta insana
Não ouvimos o essencial
E nos distanciamos mais e mais
E vamos para um lugar aonde
Os gritos se perderão ao vento
Aonde os sentimentos se perderão
E é neste lugar que encontraremos
Enfim
O silêncio absoluto

Que nunca queremos

Que nunca buscamos.

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